Garimpeiros deixam Terra Yanomami

Vista aérea do garimpo na Terra Yanomami. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Parte dos 15 mil garimpeiros que ocupavam a Terra Indígena Yanomami começou a deixar a área a pé. Outros estão pedindo ao governo que libere o trânsito de aviões e embarcações para poderem sair. Esse trânsito foi interditado como parte das medidas para banir a atividade do garimpo na área. O ministro da Justiça, Flavio Dino, disse esperar que 80% dos garimpeiros tenham saído da terra indígena até o fim da semana.

Mais uma criança morreu nesse domingo (5/2), apesar de as equipes de saúde estarem no local. O menino, de um ano e cinco meses, estava em estado grave de desnutrição e desidratação, e precisava ser removido para Boa Vista, mas o mau tempo impediu a decolagem do helicóptero, segundo Júnior Hekurari, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’Kuana (Codisi-YY), uma das principais lideranças da região de Surucucu, no extremo Oeste do estado e próxima à fronteira com a Venezuela.

No total, segundo o Ministério dos Povos Indígenas, 570 crianças morreram no território Yanomami nos últimos 4 anos de desnutrição, pneumonia e outras doenças que poderiam ter sido evitadas. Dessas, 100, só neste ano.

O secretário Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Ariel de Castro, informou que, segundo denúncias, ao menos 30 meninas e adolescentes Yanomami vítimas de abusos cometidos por garimpeiros estariam grávidas. Os casos estão sendo investigados.

O presidente Lula prometeu acabar com o garimpo ilegal. Pelo menos 500 integrantes da Polícia Federal, da Força Nacional e das Forças Armadas vão participar de ações de coerção ao garimpo ilegal na região, incluindo apreensão e destruição de equipamentos, segundo o ministro da Justiça. Flavio Dino garantiu que os criminosos serão punidos.

Crianças desnutridas na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Foto: Urihi Associação Yanomami

A desnutrição dos Yanomami é resultado de anos de assédio dos garimpeiros ao território deles, sem contenção por parte do estado brasileiro, que no governo anterior, de Jair Bolsonaro, apoiava o garimpo em terras indígenas. Os indígenas não conseguiam se movimentar livremente no território porque eram atacados pelos garimpeiros. Não podiam coletar frutos e castanhas nem caçar. As presas também eram afugentadas pelo barulho das dragas. E a pesca e coleta de caranguejos ficaram comprometidas pela poluição das águas com o mercúrio usado pelo garimpo.

O atendimento de saúde foi interrompido no governo Bolsonaro. Os postos de saúde, os serviços de atendimento preventivo, inclusive vacinas, e o transporte de pacientes mais graves, tudo isso deixou de ser feito. Os garimpeiros destruíram pistas de pouso, dificultando o acesso às áreas mais remotas.

Então a tragédia sofrida pelos Yanomami foi uma combinação da atuação dos Yanomami e a omissão do estado. Quando podem explorar livremente seu território, os Yanomami e outros povos indígenas se alimentam bem e contam com melhor estado de saúde, tornando-se menos dependentes da medicina não indígena. Foi o que observou a pediatra endocrinologista Priscila Gonçalves, em conversa com o programa Earth News Terra, disponível no canal no YouTube e nos aplicativos de podcasts.

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