Novo sistema de internet de baixo custo chega a aldeias em Rondônia

Indígenas do povo Oro Nao, que vivem em Rondônia, testam o sistema. Foto: Luciene Kaxinawá

Por Luciene Kaxinawá

Indígenas da etnia Uru Eu Wau Wau e Oro Nao são os primeiros do Brasil a testarem o sistema de telecomunicação digital em ondas curtas de rádio. De acordo com os idealizadores, esse sistema de baixo custo auxiliará no monitoramento territorial, promovendo uma comunicação mais ágil e segura.

O sistema é alimentado por placas solares e não depende de energia elétrica, cabo de fibra óptica ou sinal de satélite. Outras aldeias têm somente um sistema de rádio-frequência, que funciona somente como telefone, para enviar mensagens de voz. Já esse novo sistema oferece todas as funcionalidades da internet, como envio de fotos, vídeos e planilhas.

Os indígenas deverão usá-lo principalmente para enviar denúncias de invasões, com imagens, e também para avisar sobre doentes nas aldeias.

Como a tecnologia é nova no Brasil, especialistas brasileiros e estrangeiros estiveram em Rondônia para capacitar os indígenas e instalar o sistema dentro de duas comunidades. Foram três dias de intensos trabalhos e aprendizados. Para o indígena Kaimbu Juma Uru Eu Wau Wau, esse momento é de grande importância principalmente para a juventude indígena: “A gente vai levar um grande aprendizado para que a gente possa ensinar outras pessoas, fortalecer isso dentro das nossas comunidades para fortalecer essa juventude. Vai funcionar de forma positiva pra gente principalmente quando não tivermos energia elétrica, já que o sistema funciona através de placa solar.”

A iniciativa é do projeto Fortalecimento da Proteção dos Territórios Indígenas por meio do Uso de Tecnologias, executado pela Kanindé – Associação de Defesa Etnoambiental, com apoio do WWF Brasil e Fundação Moore (Gordon and Betty Moore Foundation). A instalação do sistema contou com a parceria da Rhizomatica (Associação para Comunicações Progressistas) e Usinazul, empresa de engenharia e consultoria em energia sustentável e serviços ambientais.

“Esse sistema foi todo pensado e desenvolvido para a Amazônia, então poder fazer essa primeira instalação aqui é de fato uma realização pra gente”, disse Rafael Diniz, criador do sistema Hermes. Ele é brasileiro, mas mora na Rússia há mais de dois anos, e veio para o Brasil para acompanhar de perto a instalação do Hermes. “O rádio é o sistema inteiro, com computador dentro, que faz o roteamento das mensagens e também a interface web que é acessada pelo celular. Esse sistema permite acessar todos os dados via wi-fi, pode enviar e receber mensagens, fotos e vídeos, assim fica mais fácil fazer denúncias de ameaças dentro dos territórios”, afirma o idealizador do sistema.

De acordo com a geóloga Damarys Elage, além do Hermes, as comunidades contam com o Sistema de Monitoramento e Desmatamento Kanindé, que gera alertas diários através de satélites e conta com imagens de drone em campo e o aplicativo Smart. Juntos, esses sistemas devem facilitar o envio para as autoridades de dados das comunidades sobre desmatamento e invasões nesses territórios.

O coordenador técnico Israel do Vale conta que esse projeto já é estudado desde 2019 juntamente com a WWF Brasil. A ideia surgiu durante uma capacitação de indígenas com uso de tecnologias para o monitoramento territorial. “O Hermes facilita a comunicação desses dados da aldeia para a base central que fica em Porto Velho, e assim conseguimos dar agilidade no processo de denúncias”, explica o coordenador.

Felipe Spina, que é responsável pela parte de tecnologias para conservação da WWF Brasil, conta que o Hermes é o primeiro rádio digital homologado no Brasil: “O projeto é uma continuação das ações que a gente vem fazendo desde 2019. A gente começou fazendo apoio com as emergências dos incêndios, e depois conseguimos financiamento da Fundação Moore para trabalhar o componente de proteção territorial. E agora a gente está com o projeto do Bengo, que além dessa agenda de proteção territorial adiciona outras agendas muito importantes, como sociobiodiversidade, garimpo e outras questões”.

Uma das comunidades que receberam esse sistema foi a do Povo Oro Nao, que vive na região de fronteira entre Brasil e Bolívia, no interior do estado de Rondônia. Nela, vivem cerca de 400 indígenas. Para Benjamim Oro Nao, que é presidente da Associação Indígena Santo André, essa tecnologia deve ajudar a comunidade: “Nós estamos preparados e capacitados para utilizar essas tecnologias e fazer o monitoramento da nossa terra, a gente tá querendo muito para defender a nossa área”.

Quem também aprovou a instalação do novo sistema em território indígena foi o cacique João Marcos Oro Nao: “Nós estamos felizes mesmo, porque a gente precisa disso na aldeia, desse apoio, principalmente em situações de emergência.”

O sistema ainda está em fase de testes dentro dessas comunidades em Rondônia.

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