Sâmela e Tukumã: uma história de amor entre indígenas

Sâmela Mawé, do Amazonas, e Tukumã Pataxó, da Bahia. Foto: Arquivo pessoal

Por Luciene Kaxinawá 

Você já deve conhecer muitas histórias sobre casais que mantêm um relacionamento à distância, mas como essa garanto que você ainda não ouviu.

Sâmela Awiá Satere Mawé é uma jovem comunicadora, indígena e ativista que vive em Manaus, já recebeu premiações pelo seu papel de destaque na luta pelas causas indígenas e da preservação do meio ambiente. Tukumã Pataxó também é um jovem indígena que atua como influencer (em suas redes sociais divulga fatos importantes e curiosidades sobre povos indígenas do Brasil). Estudante de gastronomia, também comunicador, Tukumã nasceu na aldeia de Coroa Vermelha, extremo sul da Bahia. 

Dois jovens de estados e culturas diferentes que enfrentam vários desafios para manterem uma relação de casal sem deixar as lutas de lado. “Nenhum dos dois estava planejando isso, mas está acontecendo e está dando certo, se for preciso fechar uma BR a gente está fechando” afirma Tukumã. “Ou fechar um rio, já que no Amazonas praticamente não tem BR”, completa Sâmela.

Como tudo começou 

Em entrevista para o Earth News Terra, o casal contou como essa história começou. Segundo Sâmela, os dois já conheciam o trabalho um do outro através das redes sociais, porém a história de amor só começou em agosto de 2021 em Brasília, durante a manifestação indígena “Luta pela Vida”, onde se conheceram pessoalmente e começaram a trabalhar na comunicação para a divulgação do movimento. 

“A gente fez alguns trabalhos juntos, como arrecadação de alimentos para o Acampamento Terra Livre, junto com outros infuencers indígenas, e daí  fomos conversando, fizemos outros trabalhos juntos, ele na edição de vídeos e eu com textos, nos encontramos pessoalmente na mobilização”, conta Sâmela.

Tukumã lembra que isso tudo aconteceu após dois anos sem a realização do evento por causa da pandemia: ”Depois de dois anos, estava todo mundo com esse anseio de conhecer quem só conhecia pela internet”. 

Sâmela revela que foi Tukumã que teve a iniciativa de convidá-la para sair, porém esse encontro demorou um pouco para acontecer. Depois de um mês de muita conversa e passado o primeiro encontro, Tukumã aproveitou uma brecha em sua agenda para conhecer a família de Sâmela em Manaus. “A gente não sabia como ia acontecer, como dar certo, afinal são 5 mil km de distância um do outro”, diz a ativista.

Distância e trabalho
 Como Sâmela e Tukumã vivem uma rotina muito corrida, agendas e percursos diferentes, a maior parte do tempo eles estão distantes,  mas para matar a saudade o casal não mede esforços. ”A gente fez um trato de se ver pelo menos uma vez por mês, um em cada estado. A gente aproveita nossas agendas e viagens a trabalho para se ver, pois nós também trabalhamos em conjunto, um assessorando o outro”, explica Sâmela. “A gente usa muito o celular também, fazemos chamadas de vídeos quase o tempo todo, para acompanhar o dia a dia um do outro e também para tratar sobre trabalhos.” 

“A gente se ajuda muito, o trabalho é uma prioridade na nossa vida” conta Sâmela sobre a relação entre profissional e casal. De acordo com uma pesquisa feita pela Universidade do Estado de Utah, nos Estados Unidos, o índice de felicidade e satisfação profissional de casais que trabalham juntos é duas vezes maior do que casais com rotinas e trabalhos diferentes. Essa união tem sido tão positiva que em algumas campanhas publicitárias  e nas redes sociais os dois já estão sendo convidados para trabalhos em conjunto.  “A gente se relaciona trabalhando e às vezes trabalha se relacionando”, define Sâmela

Será que indígena namora?
Atualmente no Brasil existem mais de 300 povos indígenas diferentes, cada um com suas tradições e costumes diferentes, mas também não podemos esquecer que não estamos mais em 1500. Algumas questões sobre sexualidade e relacionamento se atualizaram dentro das comunidades indígenas. “As pessoas ficam surpresas, eu não sei se as pessoas não sabem que indígenas namoram, mas o amor é universal, toda forma de amor é válida, e nós indígenas também amamos e nosso amor também é válido”, diz Sâmela com um singelo sorriso no rosto. 

Tukumã observa: “Eu acho que muitas pessoas têm um conceito muito errado sobre o indígena em geral. A  gente já ouviu: ‘Ah! O indígena não pode sentir ciúmes, tem que ter mais de uma mulher.’ Eu acho que acima de tudo tem que ter o respeito, independente da relação que a pessoa tem, com quem tem. O importante da vida é ter alguém do seu lado que te entenda, compreenda e apoie.”

Diferença Cultural 

“Somos dois povos completamente diferentes e bem distantes”, explica Tukumã. “A cultura dela é muito diferente da minha. É língua, estado, cultura, um é do rio e o outro é do mar. A gente aprende muito da cultura um do outro.” Tukumã conta que passou 10 dias viajando no Amazonas, conhecendo mais sobre a cultura do povo dela, principalmente a culinária: “Eles comem muita coisa que nós não comemos por aqui. Foi a primeira vez que eu comi uma formiga com café na minha vida! É um choque cultural bom”.

Os dois estão passando o Dia dos Namorados em Santa Cruz Cabrália, na Bahia, na terra de Tukumã.

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