Cúpula das Américas e os tímidos compromissos sobre meio-ambiente

Chefes de estado e de governo na Cúpula das Américas. Foto: Departamento de Estado/EUA

Por Renata Amaral*, de Los Angeles

Em que pese constar como tema prioritário tanto para os governos como para o setor privado, meio-ambiente, sustentabilidade e clima foram tratados de forma tímida durante a Cúpula das Américas em Los Angeles na última semana.

No documento Policy Recommendations, entregue pelo Americas Business Dialogue aos governos, o setor privado recomenda a implementação de política na região para um futuro verde e para a aceleração da transição para fontes de energia limpa. A iniciativa é liderada pelo setor privado facilitada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e que representa empresas e organizações empresariais de todos os setores da economia e de todos os países das Américas.

O presidente dos EUA, Joe Biden, apresentou na quinta-feira (09/06) seu plano para que as nações das Américas combatam as mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, aumentem a produção de energia limpa — um plano que ele está divulgando como um impulso econômico que trará empregos lucrativos para nações que lutam para reter trabalhadores qualificados em meio aos fluxos migratórios no Hemisfério Ocidental. 

De acordo com autoridades do governo americano, o plano climático apresentado por Biden envolve medidas para promover o comércio e o investimento em energia limpa, bem como incentivar a colaboração regional na América Latina e no Caribe. Também foi anunciada a expansão de uma iniciativa das Nações Unidas e do Banco Interamericano de Desenvolvimento para impulsionar as fontes de energia renovável até 2030. O governo dos EUA afirmou ter garantido um compromisso de até US$ 50 bilhões de quatro bancos regionais de desenvolvimento nos próximos cinco anos.

Na quarta-feira (08/06), a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, anunciou uma iniciativa separada, a Parceria EUA-Caribe para enfrentar a crise climática até 2030. Esse plano se concentra em reduzir a dependência das nações insulares (países ilhas) das importações de energia.

Também puxado por Biden, o tema esteve presente na bilateral entre os presidentes do Brasil e dos EUA, quando o norte-americano deixou clara a preocupação com a Amazônia e a democracia no Brasil. Por sua vez, frente a uma platéia bastante cética em relação ao que dizia o presidente brasileiro, Bolsonaro garantiu durante o seu discurso para a Cúpula no dia 10/06 que meio-ambiente, a proteção da Amazônia e o Código Florestal são temas tratados com muita seriedade pelo atual governo. 

Os EUA também lançaram uma versão latino-americana de seu recém-anunciado Indo-Pacific Economic Framework for Prosperity. A visão para o Hemisfério Ocidental, chamada de iniciativa da Parceria das Américas para a Prosperidade Econômica, abre as portas para que os países interessados trabalhem juntos em pilares como comércio, mudança climática, resiliência da cadeia de suprimentos e formação de capital humano e social. Trata-se mais um convite para discutir, coordenar e negociar do que de uma proposta mais concreta.

De concreto mesmo, o que saiu da Cúpula foi uma Declaração de Boas Práticas Regulatórias  — assinada por Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, EUA, Equador, El Salvador, Haiti, Panamá, Paraguai, República Dominicana e Uruguai — e a assinatura por 20 países (incluindo o Brasil) de um pacto para enfrentar a crise imigratória nas Américas, tema prioritário para o governo dos EUA nesta cúpula.

* Especialista em comércio internacional pela American University Washington College of Law e co-fundadora da organização Women Inside Trade.

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