PF prende suspeito de matar guerreiro Ari Uru-Eu-Wau-Wau

Ari Uru-Eu-Wau-Wau. Foto: Gabriel Ushiida

Luciene Kaxinawá, de Porto Velho

A Polícia Federal anunciou a prisão de um suspeito do assassinato do guerreiro Ari Uru-Eu-Wau-Wau, ocorrido em 2020. Ari integrava um grupo de vigilância indígena contra a exploração ilegal do território no município de Jaru, em Rondônia. Ele era referência entre os indígenas e o crime teve repercussão internacional. 

A prisão preventiva foi determinada como parte da Operação Guardião Uru, realizada pela PF de Rondônia. De acordo com a PF, o suspeito, cujo nome não foi revelado, já tinha sido detido no presídio de Jaru, a 300 km de Porto Velho, por outros crimes. Ele é investigado por dois homicídios, suspeito de outros, e também responde por violência doméstica contra duas mulheres. Segundo o delegado Rafael Fernandes Souza Dantas, a polícia chegou ao acusado por uma ligação, mas não deu detalhes sobre se o preso agiu sozinho.

Ari, que tinha 33 anos, foi encontrado morto na manhã de 18/04/2020, caído na margem esquerda da rodovia RO 010, km 12, com lesões no pescoço e cabeça. Na época, a Polícia Civil manifestou dúvidas sobre se a morte havia sido por homicídio. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) foi inconclusivo sobre as causas da morte. Representantes do povo Uru-Eu-Wau-Wau garantiram que tinha sido assassinato, não acidente.

O processo saiu da esfera estadual para a federal em maio de 2021, depois que a investigação concluiu que a motivação do crime tinha relação com a proteção dos direitos indígenas. A equipe de vigilantes Guardiões, da qual Ari fazia parte,  combate as invasões de madeireiros e grileiros. O crime impactou toda a população de indígenas de Rondônia.

A assessoria de imprensa da PF disse que não há mandantes para o crime: “A motivação ainda está sendo apurada. Possivelmente, não se trata de motivos relacionados ao meio ambiente, mas atritos pessoais entre o autor e a vítima”, informou a Delegacia da PF em Ji-Paraná.

“Nos sentimos aliviados por ver que a justiça existe, principalmente para os povos indígenas”, disse um familiar de Ari, que pediu para não publicar o nome por temer mais violência. “Esperamos que continue assim. Uma parte se sente feliz e a outra se sente triste porque, na realidade, esse assassino levou uma das pessoas mais importantes de nossas vidas, matou um pai, um marido, um filho, uma liderança, um professor. 

Ari Uru-Wau-Wau morava na Aldeia 621 Jaikara, da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau. Um irmão dele, que foi quem encontrou o corpo na estrada, me disse que, apesar da prisão, existe um clima de insegurança. “Nós estamos felizes e ao mesmo tempo pensando: como vai ser daqui pra frente? São essas perguntas que ficam em nossa cabeça. Não estamos totalmente seguros por parte da justiça para defender nosso território”, desabafou o irmão, que também pediu para não ser identificado, por medo.

Para Ivaneide Bandeira, a Neidinha Suruí, fundadora da Kanindé – Associação de Defesa Etnoambiental, é importante que a Polícia Federal dê continuidade às operações de fiscalização na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau. “O Ari era um protetor da floresta e sua luta tem que continuar. É fundamental que a PF dê continuidade às ações de proteção do território, pois o que temos visto é que a grilagem de terra, o roubo de madeira e o garimpo têm gerado cada vez mais violência. Precisamos ter paz e sossego”, declarou a ativista, que desde 2020 acompanha a luta pela busca de respostas e justiça, junto com a família e lideranças dos Uru-Eu-Wau-Wau. “A prisão me deixa um pouco mais aliviada, pois estamos esperando isso desde 2020. E esperamos que a justiça seja feita e que sejam retirados todos os invasores da terra indígena”, concluiu.

A morte de Ari Uru-Eu-Wau-Wau foi um dos episódios mais marcantes do premiado documentário “O Território”, exibido nos principais festivais de cinema do mundo este ano. Coproduzido pelos indígenas e com produção executiva da jovem liderança Txai Suruí, o filme retrata a luta contra o desmatamento e tem previsão de estreia no Brasil para o segundo semestre.

Em 2021, Walelasoetxeige Paiter Bandeira Suruí, mais conhecida como Txai Suruí, foi a única brasileira a discursar na abertura da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), em Glasgow, na Escócia. Ela é filha de Neidinha e do líder Almir Suruí. Em seu discurso, Txai cobrou justiça por Ari, que era seu amigo.

“Enquanto vocês fecham os olhos para a realidade, o defensor da terra Ari Uru-Eu-Wau-Wau, meu amigo desde que eu era criança, foi assassinado por defender a floresta. Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática e nós precisamos estar no centro das decisões tomadas aqui”.

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